José Travaços Santos

Baú da Memória

A Encamisada, expressão da espiritualidade popular

A Encamisada, manifestação etno-religiosa que se insere nos círios estremenhos, volta a realizar-se na Rebolaria em 7 de Junho do corrente ano, dias antes da festa do taumaturgo, Santo António, a quem é dedicada.

Sendo um círio muito localizado e nocturno, começa e termina no adro de Santo António onde está a capela desta invocação, percorrendo mais três lugares do aro rebolariense, Arneiro, Forneiros e Casal do Alho e vindo, de há anos para cá, até à Ponte Nova, já na Vila. Os anjos, dois rapazes na puberdade, que deitam as loas ao santo evocativas, segundo a tradição popular, da sua vida e dos seus milagres, fazem a caminhada montados em burros, possivelmente de pelo branco, e são acompanhados pela multidão de crentes que empunham velas e tochas e por alguns músicos de filarmónica.

Até onde sabemos realizava-se já no século XIX, sendo provável que remonte à segunda metade do século XVII (a primitiva capela datava de meados daquele século). Tendo deixado de fazer-se entre os anos 30 do século XX e os anos 80, retomou-se nessa década muito pela acção do saudoso Armindo Vieira Jordão (Pimenta), falecido em Junho do ano passado.

Também a tradição medieval portuguesa da iluminação com conchas de caracóis transformadas em lucernas, mantida em vários pontos do País e com relevo para a Festa de Nossa Senhora do Fetal no Reguengo, permanece aqui, iluminando com graciosidade e arte o percurso do círio.

Estas manifestações populares não deixam de se revestir de grande espiritualidade e de autêntica fé, ecos duma crença por vezes ingénua mas sempre genuína e profunda. Demais, fazendo parte integrante e indesligável da nossa Cultura, mantê-las é preservar o que de mais autêntico há na alma do Povo que somos.

A fotografia reproduz a “Encamisada” do ano de 2005.


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