A Opinião de António Lucas
Ex-presidente do Município da Batalha
Emprego por convite
Já disse e continuo a repetir que a democracia continua a ser o modelo de governo menos mau, porque tendo muitos defeitos, porque muitos políticos não o dignificam, nem fazem nada para o melhorar, mas mesmo assim os outros modelos conhecidos ainda são piores, tais como as ditaduras e outros que tais.
Os eleitos e os nomeados para cargos na estrutura do estado central e local têm muitas vezes a faculdade de nomear diversos elementos para as estruturas que dirigem. Não viria daqui mal ao mundo se a preocupação principal fosse criar equipas, coesas, competentes, dedicadas e esforçadas, em prol da prestação de serviços de elevada qualidade aos clientes desses serviços, que mais não são do que todos os cidadãos deste país, ou de qualquer um dos 308 concelhos.
Se é compreensível a nomeação de gente de confiança pessoal para um ou outro destes cargos (de preferência muito poucos), já não é nada compreensível e menos aceitável que se enxameiem os serviços públicos de nomeados/convidados, sem qualquer concurso e muitas vezes sem capacidade técnica, pessoal e humana para o desempenho de funções de serviço público. São nomeados para se servirem e não para servirem e quem vai para o serviço público tem de ir e só devia ir, para servir e jamais para se servir.
Tivemos eleições autárquicas recentemente e estes maus exemplos, atrás referidos, já começaram, para se arranjarem empregos para os candidatos derrotados e para as suas equipas de nomeados, com emprego por convite, e que muitas vezes nada mais sabem fazer, para além do desempenho de alguns cargos do tipo, ou no poder local ou no poder central. E o pior de tudo é o facto de muitos destes casos serem gente completamente incompetente e sem motivação, disponibilidade e espírito para o desempenho de funções de serviço público. Têm motivação para um emprego bem remunerado, sem responsabilidade nem prestação de contas a quem lhes paga, que somos todos nós, bastando cumprir as ordens do chefe e trabalhar nas campanhas político partidárias.
Os movimentos independentes tem vindo a ganhar terreno, por via de muitas vitórias eleitorais, aos partidos tradicionais. Um dos aspetos fundamentais para a confiança depositada pelos eleitores, assenta numa gestão mais assertiva e mais próxima da racionalidade da gestão privada, no que respeita a diversos aspetos da gestão pública, nomeadamente no que respeita à gestão dos recursos humanos. Tem que se fazer diferente e muito melhor na gestão dos recursos humanos, recurso este de excecional importância em todas as organizações e especialmente nos serviços públicos. Assim sendo, temos de saber e conseguir motivar os recursos disponíveis e contratar apenas e só recursos de capacidade superior, para servirem de exemplo para os que estão na organização, ajudando-os e motivando-os a fazerem ainda melhor, quando isso seja possível.
Pelo contrário, se se nomearem/convidarem candidatos derrotados, gente que pouco mais sabe fazer do que gravitar a volta de cargos de nomeação, o que vai acontecer? Um serviço público de péssima qualidade, a desmotivação dos trabalhadores dessas organizações e a normal e natural contestação de quem paga para ter serviços de qualidade e o que recebe são caros e péssimos serviços. E ainda bem que o povo já não está disponível para aceitar de boca fechada este tipo de situações.
Em suma, a nomeação de quadros só deveria acontecer quando dentro das organizações não existem soluções, têm de ser de excecional qualidade, com conhecimentos para a função muito acima da média e no terreno têm de demonstrar que fazem depressa e bem o serviço para o qual foram nomeados. Não sendo assim, em vez de ajudaram a organização, só desajudam, porque quem está ao lado, a ganhar menos e a trabalhar mais e melhor, irá desmotivar-se e fará muito menos e pior do que as reais capacidades que detém.
Quem dirige, tem que ser capaz de motivar os seus quadros, geri-los de forma racional e competente, para maximização das suas forças e capacidades ao serviço dos clientes/utentes. Só o conseguirá fazer se os funcionários das organizações não se sentirem preteridos por nomeados sem competência, nem vontade de trabalhar no duro.
Haverá sempre algumas exceções que mais não servem do que para confirmar a regra.
Nesta época, desejo aos leitores em geral e aos batalhenses em particular, um Santo e Feliz Natal com muita saúde e paz.
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