Vítor Correia (gestor de empresas)

A Equação para os Negócios

Empreendedor? Precisamos de si.

Em qualquer sistema empresarial, sem uma entrada de receitas, não poderá haver aumentos de coisa nenhuma. Não poderá haver aumento de salários, ou da melhoria da qualidade de vida seja dos acionistas ou trabalhadores. Este é um paradigma económico básico. Esta realidade à micro escala, será também aplicável à escala dos concelhos ou mesmo do país. A hemorragia de residentes traduz-se num aumento de coisa nenhuma: impostos, receitas locais e de qualidade de vida. Não há economia local sem residentes e não há residentes sem projetos empresariais. 

Em Portugal, e em 2021, temos menos residentes do que em 2001. Os números mais recentes mostram uma perda anual sucessiva de residentes logo a seguir à gestão de insolvência da troika. A situação é bastante simples: em cenário de quebra económica, com aumento de desemprego e sem oportunidades, as pessoas foram incentivadas (não diria forçadas, porque quem cá ficou é que foi forçado a levar-se para a frente neste país) a emigrar e a adiar planos de constituir ou fazer crescer a família. Quando se pensa em sobrevivência, primeiro há que pagar contas e, só depois, haverá espaço para crescimento pessoal e para a autorrealização.

Nos últimos 20 anos, a Batalha foi o concelho na Região de Leiria com o segundo maior aumento de residentes e bem à frente da metrópole Leiria. No entanto, os números revelam algo de sinistro. Todos os concelhos, exceto a Batalha, perderam residentes sucessivamente, ano após ano, desde 2011. Teremos então feito algo diferenciador para este desempenho? Em parte, o facto da Batalha ser pioneira a agarrar as oportunidades da descentralização e autonomia municipal nas áreas da saúde, educação e a muito curto prazo também de iniciativas de ação social. É precisamente essa autonomia que nos tem permitido investir e desenvolver as infraestruturas para captar e fixar mais residentes. Quem quererá viver num concelho com escolas sem qualidade ou acesso a cuidados de saúde? Ou simplesmente onde essa qualidade ou o acesso seja ditado por alguém atrás de uma secretária em Lisboa?

Precisamos de mais! Devíamos de ficar orgulhosos por caminharmos juntos rumo ao paraíso – o lugar onde todos querem viver. Mas se a região perde no geral, então todos estamos a perder.

O que nos falta fazer é o milagre do progresso como em Oeiras ou mesmo no Fundão. A transformação de concelhos estáveis em polos de atracão de pessoas e de crescimento empresarial, isto é, aquilo que transformou a paisagem plana e agrícola de Oeiras, num mar de arranha-céus residenciais e de centros empresariais. Por isso não chega ter infraestruturas atrativas, estão-nos a faltar projetos empresariais transformadores. A infraestrutura deve depois acompanhar esses projetos. Os nossos empresários que inovam localmente há anos não podem estar sozinhos nesta demanda. É preciso acompanhá-los de outros e novos empresários que tragam mais projetos diferenciadores para navegarmos rumo ao infinito.

A diferenciação alcança-se com mais negócio de elevada produtividade – como são os casos de projetos nas áreas das finanças ou da tecnologia. Estamos entre Lisboa e o Porto, com universidades próximas e com os recursos de um litoral. São excelentes condições para fixar o talento para sempre. Faltam assim os projetos que absorvam o melhor talento que a Região consegue produzir. E se a Região não consegue produzir talento em volume ou em especialização, então que se recrute fora e que se comece a falar inglês como língua oficial da fábrica ou do escritório. Na verdade, esta é já uma realidade presente no dia-a-dia de algumas das melhores empresas do nosso concelho. A praia, o sol, a habitação económica e programas de incentivos fiscais para não-residentes, são tudo razões para um empresário não se sentir desanimado com a dificuldade em atrair talento de fora para dentro. Faltam ainda mais projetos de grande ambição para se posicionarem mais alto na cadeia de valor – quem quer fazer peças quando temos a capacidade de desenhar e fabricar veículos? Mais integração significa um ecossistema de empresas regionais que se entreajudam, que cooperem na captação de negócios ou até mesmo na partilha de talento. Por isso, se é empresário, precisamos de si!


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