Vítor Correia (gestor de empresas
A Equação para os Negócios
Diz-me o que fizeste e dir-te-ei quem és
Poderia ser um artigo sobre a época política que vivemos. Podia ser também uma versão moderna da cigarra e da formiga ou o recontar do ditado “Os homens não se medem aos palmos”. Este artigo é sobre tudo e sobre nada. É uma pequena história que se repete mas que muitos gestores teimam em esquecer. O mais importante é que se aprenda a história e se conte muitas vezes até não se esquecer.
Recentemente, uma colega (chamemos-lhe Maria) decidiu ir voar mais alto noutro negócio e despediu-se do trabalho onde estava já a alguns anos. Quando me incorporei, a Maria já estava quase de saída. Não tive a oportunidade de a conhecer a fundo e seis semanas é pouco tempo para se conhecer alguém. Faltava fazer agora o mais difícil: preparar um discurso de agradecimento e uma pequena cerimónia de saída. O mais difícil afinal foi ver bom talento a sair pela porta fora já que não me faltaram palavras para descrever a Maria e agradecer pelos seus anos de trabalho. Eu podia até ter alongado o discurso de agradecimento durante uma hora se necessário. O trabalho de vários anos que a Maria fez em prol do negócio falava por si. A Maria soube trazer o conhecimento e experiência de empresas grandes e aplicá-la à dimensão do nosso negócio. Deixou-nos aquilo que muito ambicionam ter e fazer, mas que nunca conseguiram começar nem terminar em empresas grandes.
Pessoas como a Maria construíram o seu saber em outras constelações. Em outras empresas multinacionais, com hierarquias complexas, geridas por números e constantemente a trabalhar para ganhar eficiências de produção de 0,5% que quando somadas equilibram as contas e colocam o negócio no caminho da sustentabilidade para os próximos 10 anos.


Pessoas como a Maria são pessoas de fazer. São pessoas que não reúnem consensos. Tiveram de lutar contra sistemas instituídos, deitar abaixo silos e lutar contra formas de pensar calcinadas. São pessoas que têm muito pouco a perder porque amanhã podem estar a trabalhar em outro sítio. São pessoas que equilibram bem os dois pratos da balança: de um lado saber escolher e travar batalhas com todos e até com a Administração, mas do outro, saber trazer com elas equipas inteiras para poder implementar melhorias que tocam em todas as áreas do negócio – porque o fazer e o saber fazer nunca se fazem sozinho. São também pessoas que vivem tão focadas nos resultados e no querer construir e melhorar, que se esquecem de comunicar devidamente o progresso, criam anticorpos com muitas áreas e que acima de tudo, contornam outras pessoas se necessário, isto é, se lhes colocam muitos obstáculos, estas pessoas vão à volta e não ficam presas por quem constantemente apresenta um problema para cada solução.
As empresas, tal como todas as áreas da sociedade não precisam só de Marias, mas precisam de pelo menos algumas. Gerir e tomar decisões com números, sempre com base numa lógica de negócio, isto é, o olhar fixo nos resultados é metade do segredo disto tudo. Porque no fim da caminhada empresarial só interessa isso mesmo: até onde é que chegámos. Se alguém disse que uma pessoa deve escrever um livro, ter um filho e plantar uma árvore, a Maria já fez este hat-trick metaforicamente durante o seu percurso na empresa. Assim, quando um gestor cair nas tentações de ter as suas preferências pessoais ou até mesmo amizades na hora de recompensar, lembre-se sempre de fazer a pergunta para si mesmo: “diz-me o que deixaste feito e eu dir-te-ei quem és”. Lembre-se também de recompensar ou agradecer pelas metas alcançadas sempre que possível.
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