A Opinião de António Lucas

Ex-presidente do Município da Batalha

Desconfinamento ou regresso a normalidade

Muitos pensaram que a partir de 1 de junho, com muitos cuidados, nos aproximaríamos da normalidade das nossas vidas, quer em termos profissionais, quer sociais. Não obstante, era percetível para muitos que assim não seria e isso está mesmo a acontecer, bastando olhar para alguns exemplos de ajuntamentos com consequências diretas nos resultados dos infetados, que tardam em descer para números minimamente confortáveis e que gerem tranquilidade.

Esta situação já implicou o regresso dos hospitais de Lisboa a prioridade Covid, ficando a aguardar todas as outras mazelas, com graves consequências na saúde dos portugueses, que ainda não se sentem completamente, mas que aparecerão em larga escala nos próximos meses.

Foram muitas e muitas consultas que ficaram por fazer e milhares de intervenções cirúrgicas para engrossar as listas de espera. Ao nível das unidades de saúde familiar, com a prioridade também dada à Covid, os utentes passaram a ser menos bem atendidos, também com consequências para a sua saúde.

O Governo e o SNS têm que olhar de frente para esta situação e tomar medidas tendentes a recuperar o mais rapidamente possível as consultas e as intervenções cirúrgicas atrasadas. Todos sabemos que o SNS tem tido um papel meritório, mas se não forem tomadas medidas rapidamente os resultados serão muito preocupantes a curto prazo e sem culpa dos seus profissionais serão estes a arcar com elas.

Terá que ser o Ministério da Saúde a resolver a situação que é difícil, mas se não fosse assim não seriam estes governantes a estar no governo, seriam outros. Logo tem que mostrar serviço em tempos de dificuldades, pois em tempos de vacas gordas todos governam bem.

É claro que a função pública tem aqui um papel fundamental, com muita gente a trabalhar imenso e com outros, como sempre, a trabalharem ainda menos ou a nada fazerem. A carapuça só servem a quem a queira usar.

Mas não é nada aceitável que se tente telefonar muitas vezes para certos serviços públicos e ninguém atenda o telefone. Não é aceitável que se remetam emails e apenas se obtenha uma resposta automática.

Os funcionários públicos que estão em casa em teletrabalho recebem a totalidade dos ordenados, logo alguém devia responder às solicitações das empresas que lhes pagam os salários, porque quer queiram quer não, são os privados que gerem riqueza e impostos para alimentar o orçamento de estado.

Obviamente que muitos dos que cumprem, mesmo em teletrabalho, não merecem as afirmações que aqui faço, mas como disse, a carapuça só serve a alguns.

Repito o que sempre disse, e com conhecimento de causa, há bons e maus políticos, bons e maus autarcas, bons e maus funcionários públicos, bons e maus empresários e bons e maus funcionários do privado e são os maus que são menos que estragam a imagem de todos.

Numa fase como a que estamos e iremos viver temos todos de ser bons, aplicados, dedicados e esforçados para que seja o menos dolorosa possível, porque dolorosa será sempre.

Os representantes do Estado tem de ser os primeiros a demonstrar cuidado e bom senso nas suas decisões que nos envolvem a todos, sob pena de não serem respeitados, o que é muito mau para todos. Quem pode compreender que se comemore o 25/4 ou o 1º de maio, da forma como se comemoraram e um funeral não podia ter mais de 10 pessoas? Quem compreende que não se possa assistir a um jogo de futebol com 10 ou 20% do estádio ocupado e duas mil pessoas assistam a um espetáculo no Campo Pequeno? Veja-se a ida a praia ou uma viagem de avião. As medidas para a utilização das praias estão corretas, mas estarão as dos aviões, com estes cheios?

Os governantes não pensem que o povo é parvo e não percebe. O povo não é parvo e percebe. Percebe quais as medidas adequadas e as do “show off”, percebe se o seu dinheiro é bem ou mal gasto e no momento certo cobra a fatura.

O que todos desejamos mesmo é a união de esforços para que a normalidade regresse depressa. Vamos todos caminhar nesse sentido.


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