“Criatividade às vezes é tramada porque pode dar muito trabalho”

Inês Ribeiro, de 36 anos, é uma artista da nossa região que vive em São Miguel, nos Açores. É licenciada em Artes Plásticas, pós-graduada em Filosofia para Crianças e formada em Cerâmica Criativa Pelo CENCAL. Desde 2004 desenvolve projetos na área da ilustração e da cerâmica, e desde 2007 trabalha também na área da Educação. Em 2015 venceu o 1º prémio, na categoria de Design de Cerâmica, na 5ª edição do Concurso Labjovem.

Quais são as suas ligações à Batalha? Sempre me desloquei e desloco muito à Batalha, apesar de ser da Maceira (Leiria), onde estudei em pequena. Mas grande parte dos meus amigos são da Batalha, aqueles que visito e com quem estou quando venho ao continente. Fiz parte de uma associação cultural na Batalha e estudei em Leiria, onde também conheci pessoas da Batalha.

É uma ligação afetiva? Sim, que se mantém, embora fosse mais intensa antes de eu ir para os Açores em 2009.

Como descobriu a sua vocação artística? Sempre percebi que queria criar coisas e inventar histórias. Fiz o Ensino Secundário em Artes (quando saí do 9º ano da Maceira para o 10º ano em Leiria). Depois estive um ano em Castelo Branco, em Design de Moda e Têxtil, e de seguida fui para as Caldas da Rainha, para um curso de artes plásticas, onde me especializei sobretudo em técnicas de impressão na Escola Superior de Arte e Design/IPLeiria. Após este curso, entrei no CENCAL, onde fiz um curso de Cerâmica Criativa, sucedido de um estágio no Alentejo, em São Pedro do Corval, a capital ibérica da cerâmica e do barro. Estagiei e permaneci a trabalhar com o meu mestre, Joaquim Tavares.

Começou muito cedo? Comecei cedo mas não comecei logo a fazer estes desenhos. É um percurso. Até não me agradavam muito os meus desenhos, mas gostava de inventar e de pôr em desenho algumas histórias. Mas até o conseguir foi um caminho grande.

Desenvolve outras atividades? Sim, dei aulas de Educação Visual e Expressão Plástica. Mais tarde consegui um horário completo numa escola nos Açores e fui para lá. A educação está sempre presente na minha vida, tanto de adultos, como de crianças, a nível de formação e de aulas. Este último ano trabalhei com documentação de arquivo, num espólio sobre história dos Açores. Desde que estou nos Açores dou aulas, formação e desenvolvo o meu trabalho artístico, no meu atelier. Tenho trabalhado sobretudo na áreas da ilustração, cerâmica e educação.

Qual das áreas prefere: ilustração ou cerâmica? Ambas. No fundo, o meu trabalho de cerâmica é o mesmo que o meu trabalho de ilustração em papel, os materiais é que são diferentes e têm as suas especificidades. O que eu procuro sempre é fazer valer a minha linguagem, que sai naturalmente.

É como se fossem a mesma arte? Não, a cerâmica é uma extensão da ilustração onde existe uma linguagem que prevalece. Mas é indiscutível que são da mesma pessoa.

Quais são as suas fontes de inspiração? A criatividade às vezes é tramada porque pode dar muito trabalho. Às vezes passamos horas a pensar se vai ser azul ou verde, porque pode fazer toda a diferença. Pode haver tempos de bloqueio e depois num pequeno momento surgir a ideia. E há o trabalho. Se houver sempre trabalho diário, estamos hoje a fazer uma peça e já a ter ideias para amanhã. A inspiração é uma sucessão de vivências.

Quais são os pontos mais importantes da sua carreira? Um dos pontos importantes é ser convidada desde a primeira edição do Azores Fringe Festival que decorre no Pico há cinco anos. É um festival de criação, que inclui iniciativas musicais, teatrais… é dedicado às artes em geral. Outro ponto importante foi ter ganho o prémio do Labjovem e a participação no Fringe Festival, em Edimburgo (Escócia), considerado o maior festival de artes da Europa. Também gostei bastante de ser convidada para interpretar em cerâmica uma obra do pintor açoriano Domingues Rebelo.

Dedica-se às artes há 20 anos. Como imagina o seu futuro? Sim, com formação há menos. Por enquanto continuarei como estou, o depois depende sempre das oportunidades de trabalho.

E da Educação? É uma área que me dá sempre um gozo enorme. Há quatro anos fiz também uma pós-graduação em Filosofia para Crianças, uma área na qual que pretendo aliar a criatividade ao desenvolvimento do pensamento, sobretudo com o público infantil. O objetivo é toldar consciências a longo prazo porque se nós habituamos uma criança pequenina a questionar-se e a questionar as suas escolhas, isso terá reflexos no futuro individual e coletivo.

Há momentos em que questiona as suas escolhas? Às vezes questiono-me por que sou artista, que é um matutar constante. Às vezes questiono-me se não seria melhor trabalhar numa loja. Mas, o que eu mais gostava era de poder viver só da criatividade.

A criatividade suscita-lhe dúvidas? O meu problema, muitas vezes, nem é a criatividade, são as dúvidas que suscita, a vários níveis.


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