Francisco André Santos
Diacrónicas
Conexão Roterdão
Em Roterdão, convivem 175 nacionalidades. O que mais me impressionou na visita à Wikipedia antes do meu voo original foi o facto de cerca de 50% dos residentes serem de origem estrangeira de 1ª ou 2ª geração. Recordo com gosto o primeiro passar junto do “Halal Fried Chicken” que hoje cruzo todos os dias. É como galinha frita do KFC, mas com a sua preparação segundo tradições islâmicas. Fast-Food que durante o atual período do Ramadão, fica aberto sextas e sábados ate às 3 da manhã. Como se ouve por aqui, inshallah.
Outra curiosidade relevante é a existência da Pracinha d' Quêbrod. Trata-se da praça de encontro da comunidade cabo verdiana. Portugueses revolucionários em Paris, cabo verdianos revolucionários em Roterdão, onde a concentração nesta que é a 11ª ilha de Cabo Verde, cria um ponto de encontro mais tarde emulado em Paris e Roma. Já os Portugueses, em menor número, a par da Associação Cultural Portuguesa que carrega uma certa idade, juntam-se por exemplo no Café Patrícia. Somos bem-recebidos. Quer sejamos do Sporting, Porto ou Benfica, encontramos parceiros com quem sofrer a ver a bola. Apesar da cachupa ser mais frequente, o cafézinho Delta e a Super Bock levam-nos a ensaiar algumas palavras em Crioulo.
A gastronomia da cidade é ainda enriquecida pelo kapsalon, comida fast-food que encaixa no quadrado de alumínio, salada, carne de kebab, batatas fritas e queijo. Encontramos muitos “kapsalons” pela cidade, mas estes servem para cortar o cabelo. A homenagem profissional, aparentemente, deve-se a perdição de uma local cabo verdiana pela receita. Aparentemente, já se popularizou pelo Nepal. E se bem que os surinameses trouxeram o roti, e os Indonésios introduziram o molho de amendoim, informo-me que é aos holandeses que devemos agradecer pela popularização do kroket, que aqui encontramos em versão XL em maquinas de vendas automáticas, assim como a variante McDonals – o McKroket, em jeito de comparação com as “nossas” McBifanas.


Como já percebeu, a minha alimentação poderia ser mais saudável, mas sinto a obrigação de compensar o habito holandês de almoçar meia dúzia de fatias de pão mal guarnecido com qualquer creme de barrar. E quando acontece encontrar pasteis de nata a caminho do trabalho, tenho o privilégio de assistir a um épico lamber de dedos holandês, esse habito sem classe por cá e falta de classe por aí. Outro queixume a que não me sujeito quando vou à “Daily Cakes” são os 5 dedos a tocar em qualquer iguaria a que se refira a questão. Guardanapos, tortas, pampilhos, bolos de aniversario. Há muito para escolher o que acompanhar com a bica mais barata da cidade.
Dividida em norte, sul, e este, com esta honra prestada a Roterdão e o falecido chefe viajante, Anthony Bourdain, ainda não saímos da parte oeste da cidade, delimitada por um ou outro canal. A “Conexão Verde” é um dos projetos que nos unem, onde os cidadãos participam na criação de um largo circuito verde que une os seus diferentes pontos de encontro. Ao seu largo, encontramos pequenas hortas que fazem a ocupação e maravilha dos vizinhos mais corajosos.
Outro habito interessante é o de arrefecer e aquecer casas, isto é, ter uma boa desculpa para se organizar uma festa caseirinha para a despedida e a estreia do apartamento. Seguindo a “Conexão Verde”, são tempos de celebração. O tempo está bom e se bem que não é desta que entro em comunhão com a família do meu amigo Serdal, de origem curda-turca-holandesa, para a noctívaga refeição de Ramadão, hoje o feriado é outro. São as Festas de Lisboa e a Joana prometeu uma sardinhada lá em casa. Lá vai Lisboa e Roterdão, cosmopolita e mundo em sorriso irmão!
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