Concelho transformado em entreposto de solidariedade para com o povo ucraniano

A Batalha transformou-se num dos principais entrepostos nacionais de solidariedade para com o povo ucraniano, concentrando a recolha de bens de uma vasta região, enviados e a enviar para o país em guerra, e na receção a dezenas de refugiados.

No dia 11 de março chegaram três dezenas de ucranianos - o número deve duplicar nos próximos dias -, sobretudo mulheres e crianças, aos quais foram assegurados refeições e alojamento. As autoridades, sociedade civil, paróquia local e a comunidade ortodoxa da Batalha têm mobilizado esforços para apoiar os que fogem da invasão russa.

Há empresas que manifestaram disponibilidade para receber os refugiados, bem como particulares e até o Rancho Folclórico Rosas do Lena, da Rebolaria, anunciou a vontade de acolher 30 pessoas nas suas instalações, que estão capacitadas para receber grupos, com todas as condições.

Quanto à ajuda, uns dias antes partiram do Centro Paroquial da Batalha os primeiros três camiões, com destino à Hungria, à base da Cruz Vermelha Húngara, à Polónia, a Lviv e a Rivne, na Ucrânia. Seguiram carregados com bens de consumo de primeira necessidade e medicamentos.

Sob coordenação da comunidade ortodoxa ucraniana na Batalha, com a colaboração da paróquia católica, da Diocese de Leiria-Fátima, que cede o espaço, continuam a ser recolhidos bens alimentares, roupas, e material de primeiros socorros.

O responsável pela paróquia católica da Batalha, padre Armindo Ferreira, explicou que foi disponibilizado um espaço à comunidade ortodoxa. Natacha Kravets, uma das organizadoras da iniciativa solidária, disse que “num momento muito difícil, precisam da ajuda de todos, da compreensão de todos”.

Segundo Natacha Kravets, não são apenas “20 pessoas – ucranianos, portugueses, franceses” – que estão a “fazer voluntariado, a fazer solidariedade”, mas “Portugal todo. Toda a região” – “Batalha, Marinha Grande, Leiria, Ourém, Coimbra” – está a entregar bens, mas também do Porto.

“Estamos muito unidos”, realça sobre esta colaboração que existe entre as duas igrejas cristãs, observando que a paróquia “está ajudar muito” a comunidade ucraniana. Para Nataliya Kravets, ucraniana radicada na Batalha, uma frase descreve bem o sentimento de residir cá: “Minha Ucrânia é meu Portugal”.

Entretanto, o presidente da Câmara da Batalha, Raul Castro, expressou “total solidariedade para com a comunidade ucraniana residente no Concelho”. Num iniciativa de apoio, designada “Manifestação pela Paz” realizada junto ao mosteiro, que contou com a participação de dezenas de pessoas, “foram dados a conhecer relatos muito preocupantes face à recente invasão daquele país pela Rússia”.

A Assembleia Municipal da Batalha, por seu lado, aprovou uma “Moção de Solidariedade para com o Povo da Ucrânia”, apresentada pela mesa do órgão e pelo deputado da Iniciativa Liberal, que repudia “a invasão da Ucrânia pelo exército russo, sem qualquer justificação e ao arrepio do direito e das convenções internacionais”.

A moção, aprovada por unanimidade, expressa “a consternação das deputadas e dos deputados, bem como a sua profunda solidariedade para com o povo ucraniano, em particular com a comunidade ucraniana residente no Concelho da Batalha”.

“Relembramos também que Portugal e a Batalha sempre foram, e continuarão a ser, um porto de abrigo para todos aqueles que procuram viver sobre os princípios da liberdade, paz e democracia”, enfatiza o documento.

União regional

Para melhor articulação das disponibilidades de alojamento e garantir um apoio mais eficaz no acolhimento temporário de cidadãos de nacionalidade ucraniana, a Comunidade Intermunicipal da Região de Leiria (CIM Região de Leiria) disponibilizou uma plataforma de recursos e de alojamentos nos 10 municípios, denominada “SOS Ucrânia - Região de Leiria” ( https://tinyurl.com/yc5uxp8p).

Esta resposta coletiva no acolhimento de cidadãos ucranianos, realizada pelos municípios que integram a CIM Região de Leiria, será reforçada com medidas de apoio na integração nas áreas da saúde e da educação, para além do emprego e proteção social, em articulação com o Governo, organizações da sociedade civil, Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS) e também com a comunidade ucraniana em Portugal, no sentido de responder às necessidades fundamentais, que podem ser alojamento, mas também inclusão e emprego.

A Região de Leiria regista uma disponibilidade imediata e de urgência para 200 cidadãos e, com o registo de mais ofertas municipais, da sociedade civil, IPSS e empresas, será expectável que nos próximos dias se alcance o objetivo de disponibilizar apoio a um milhar de refugiados da Ucrânia, com preocupações de integração social e escolar, bem como na saúde e a disponibilidade de uma centena de camas de emergência. A região estima poder receber dois mil refugiados.

A par desta resposta ao nível do acolhimento, os municípios da região de Leiria encontram-se a colaborar em campanhas de recolha de bens alimentares, medicamentos, bens para crianças, roupa quente, cobertores, pilhas e lanternas, ações coordenadas por Organizações Não Governamentais (ONG) e associações de ucranianos residentes em Portugal.

A CIM da Região de Leiria também expressou a sua “solidariedade para com o sofrimento do povo ucraniano, repudiando veementemente a situação de conflito militar provocado pela liderança da Federação Russa, que acontece ao arrepio da soberania do Estado Ucraniano, da Carta das Nações Unidas e do Direito Internacional”.

Vontade de ajudar atravessa

toda a comunidade batalhense

O entreposto localizado no centro paroquial da Batalha já mobilizou o apoio de mais de uma centena de ucranianos da região e o dobro de portugueses, com o especial envolvimento dos escuteiros do concelho e dos seus familiares.

A Batalha, como já se referiu, tornou-se num centro de distribuição quase a nível nacional, para onde afluem entregas de Porto de Mós, Marinha Grande, Fátima, Ourém, Tomar, Abrantes, Torres Novas, Cartaxo, Alcanena, Entroncamento, Alcobaça, Torres Vedras, Coimbra, Aveiro ou Portalegre. Em Leiria há também um centro.

Uma semana após o início da ação de solidariedade tinham sido recolhidas e enviadas mais de 88,5 toneladas de bens em seis camiões, nomeadamente das empresas Broliveira, Luís & Filipe Vitória V8 e Ligação Veloz, e sete carrinhas, estas com medicamentos e alimentos para bebés.

Entre outras entidades e empresas, além da população que, por exemplo, tem colaborado na preparação de refeições, conta-se a participação da Câmara da Batalha, Erofio, Reboques Sousa, Patrovitrans, Translégua, Panidor, Simplastic, Valdilisa, Justo, Leiriplás e de farmácias. A Creche Jardim Mouzinho de Albuquerque, da Paróquia da Batalha e a empresa IMB enviaram uma carrinha para trazer crianças.

Entretanto, foi constituída no dia 2 de março a “Batimento Veloz – Associação Apoio ao Emigrante”, com sede na Golpilheira e quatro signatários, com o fim principal de “promoção e desenvolvimento de ações de carácter humanitário e de solidariedade social, onde se incluem ações de intervenção social, cultural, recreativa, educativa e formativa”.

Apoiar os indivíduos e as famílias carenciadas a vários níveis, procurando intervir por via do encaminhamento social nessas carências e na sua prevenção; crianças e jovens; família; à integração social e comunitária; proteção dos cidadãos na velhice e invalidez e em todas as situações de falta ou diminuição de meios de subsistência ou de incapacidade para o trabalho; promover a realização de ações culturais e recreativas; educação e formação profissional dos cidadãos; apoio à criação de emprego e incentivo ao empreendedorismo”, contam-se entre os seus objetivos.

Foto: António Sequeira/Fotovisão


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