Francisco Oliveira Simões

Crónicas do Passado

Boy Kill Boy – Uma década depois

Lembro-me em adolescente de ouvir o single “Suzie”, a mesma música que fez dos Boy Kill Boy uma banda de sucesso. Aquela faixa triste e melancólica, que não devia nada ao ritmo, toldado pelo Indie Rock florescido nesses tempos, era a voz de descontentamento e queda após a separação e fim de um amor eterno. Essa música contagiou-me tanto que fui procurar mais composições da obra deste grupo britânico.

Apesar da banda se ter formado em 2004, perto de Londres, só um ano depois o seu talento se materializou, quando apresentaram ao mundo o single que tanto mexeu comigo e “Civil Sin”, ambos incorporados no seu primeiro disco a ser editado. O primeiro álbum que lançaram em 2006 intitulava-se “Civilian”, e é de lá que são originários os sons mais emblemáticos, sempre representados por um critica social ou um descontentamento emocional. É normal que um rapaz de alma velha, como eu, gostasse tanto daquele semblante. O segundo disco apareceria em 2008, o mesmo ano do fim da vida dos Boy Kill Boy, com o nome “Stars and the Sea”. Este segundo trabalho em nada fica atrás, mantendo o mesmo estilo que os caracteriza. “Promises” foi o single, mas há outras faixas que precisam de ser recordadas. “Paris” volta a abordar o tema da partida e esquecimento romântico, “Ready to Go” sobre a pressão da vida adulta e todas as suas obrigações, entre outras.

Chris Peck era o vocalista, letrista e guitarrista da banda, que colocava muito de si nas palavras que cantava. Keve Chase tinha o baixo como companheiro. Shaz usava a bateria sem qualquer cerimónia. E Pete Carr estava ao comando dos sintetizadores. Apesar de já terem acabado, fizeram dois concertos especiais em 2016. E continuam na memória de muitos fãs. Por isso mesmo, falei com Chris Peck sobre algumas curiosidades do início da banda, que tanta alegria lhe trouxe. Pelo que percebi das suas palavras, pode ser mesmo que regressem mais cedo do que pensamos.

 

Quem é o poeta que mais vos influenciou na escrita de letras?

Eu sempre adorei as letras do Morrisey e do Jarvis Cocker.

 

Todas as letras são baseadas em histórias reais?

Eu sempre tive demasiado medo para transmitir a minha realidade através das palavras, por isso, tentei esconder os seus significados. Provavelmente não me sai muito bem.

 

A música “Civil Sin” é intemporal. Era uma tentativa de critica à sociedade atual?

Eu escrevi a letra de “Civil Sin” com a minha guitarra no colo, enquanto o segundo avião embatia no World Trade Center. Eu disse logo à minha mãe: “Mãe liga a televisão. O mundo vai para a guerra”. Claro que ia. Eu fui culpado por ser tão ignorante para com as dificuldades que o mundo passava. Foi um pecado civil ser tão estúpido.

 

A vossa banda foi uma das primeiras a tornar o Indie Rock um estilo mais popular. Têm noção do importante papel que desempenharam na minha geração?

Obrigado pelo elogio. Ficamos maravilhados por saber que tivemos essa influência. Eu acho que os traficantes de droga dizem: “Não deves tomar o teu próprio produto”. Durante algum tempo senti-me inseguro quanto à música que fazíamos, por isso, nem sequer a ouvia nos anos seguintes à separação da banda. Agora sinto-me mais orgulhoso por termos conseguido captar o zeitgeist e encontrar o nosso estilo. Mudou as nossas vidas. Salvou as nossas vidas.  

Foi triste ver a vossa banda terminar, mesmo sabendo que a mensagem ficaria para sempre. Se voltarem a reunir-se, por favor, venham a Portugal.

Nós gostávamos muito de nos reunirmos para fazer uma viagem a Portugal. Principalmente se estiver sol.

 


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