A Opinião de António Lucas
Ex-presidente do Município da Batalha
Autárquicas e movimentos independentes
Mais para o final deste ano iremos ter novamente eleições autárquicas. Todas as eleições são importantes, mas estas são ainda mais importantes pelo impacto das ações dos eleitos na nossa vida, pela proximidade aos candidatos, pelo conhecimento dos mesmos.
A democracia precisa dos partidos, mas estes têm que proceder a uma grande limpeza e a fortes ações de formação para que a juventude passe a olhar para a política como serviço público e não ao serviço do público partidário, como infelizmente acontece vezes demais. E isto não acontece por acaso, acontece porque os jovens têm demasiados maus exemplos dentro da casa partidária.
Uma boa parte, infelizmente ainda demasiada, dos eleitos, não tem vida profissional independente, o que é mau, porque tem tendência para se agarrar aos lugares, como lapas, porque não faz política bem, mas para além disso, não sabe fazer mais nada. Deviam todos ter experiência profissional, ou no privado ou no público, mas admitidos por concurso leal e isento.
Infelizmente, demasiados eleitos são uma coisa em campanha e mudam radicalmente a partir do dia da eleição. Na campanha os eleitores da sua geração tratam-nos por "tu", a seguir às eleições exigem ser tratados por "Sr. presidente". Na campanha fazem tudo e resolvem tudo, a seguir às eleições fazem o oposto e um simples processo de obras demora meses ou anos. Em campanha dizem estar sempre disponíveis para os cidadãos, a seguir às eleições passa a ser mais fácil falar com o 1º ministro do que com eles. Em campanha são uma simpatia para os trabalhadores, a seguir às eleições tratam-nos abaixo de cão. Em campanha oferecem tudo às coletividades e associações, a seguir às eleições os dirigentes associativos têm de mendigar para que lhes sejam pagos os apoios devidos. Em campanha são pessoas muito simples, disponíveis e acessíveis, a seguir às eleições querem ser presidentes de tudo e mais alguma coisa! Acabando por não fazer nada de jeito em lado nenhum.
Muitos mais exemplos poderia exemplificar, mas estes são suficientes para se perceber que as eleições autárquicas são importantes e que o que se faz em campanha deve ser bem escrutinado e não nos devemos deixar embalar por estes meses de simpatia e de distribuição a tudo e todos, de tudo e mais alguma coisa. À primeira todos caem, à segunda cai quem quer. O ditado é velho.
Os partidos, na sua pior versão, aprovaram no Parlamento, à beira das últimas férias, um diploma que complica fortemente as candidaturas às câmaras por listas de independentes. Mas de que têm medo as candidaturas partidárias? Quando os seus candidatos são bons e são gente disponível, competente e com provas dadas, não têm que ter qualquer receio, porque os seus eleitores/munícipes querem que eles continuem a governar bem o concelho. Já o mesmo não acontece com os que prestaram maus serviços aos seus munícipes, quando se preocuparam muito mais com a sua imagem do que com a vida dos cidadãos, quando esbanjaram a seu belo prazer em projetos questionáveis o dinheiro dos impostos dos seus munícipes em vez de o utilizarem em projetos por todos utilizáveis, quando se preocuparam mais em andar permanentemente nas redes sociais do que trabalhar a resolver os problemas que afligem os seus concidadãos, estes sim, têm razões para estar preocupados e são os maiores apoiantes da referida legislação que complica as candidaturas de cidadãos independentes.
Não obstante, os maiores partidos ganharam medo dos cidadãos e convenhamos que devem mesmo ter medo dos cidadãos, e parece já terem decidido alterar a lei de forma a que as exigências para os grupos de cidadãos independentes não sejam muito diferentes das exigências para as listas partidárias.
As eleições autárquicas são aquelas em que o que conta mesmo são as capacidades dos candidatos, a sua experiência de vida, a sua experiência profissional, a sua disponibilidade para os cidadãos, a sua capacidade para gerir os recursos humanos da autarquia, em suma, a sua palavra.
Cada vez mais precisamos de gente de palavra, de gente com coluna vertebral e de gente disponível para gerir os recursos públicos com muito maior responsabilidade do que gere os seus próprios recursos, porque os seus, se os gerir mal será apenas problema da sua família, mas ao invés, se gerir mal os recursos da autarquia, está a gerir mal o que é dele, mas também e especialmente o que é vosso, o que é nosso, e isso não é admissível.
Por fim, congratulo-me muito com a redução dos infetados com o vírus da Covid-19, no país e particularmente no nosso concelho, apelando a que mantenhamos os cuidados de distância, uso de máscara e higienização das mãos, para que ultrapassemos com saúde mais este grande desafio.
Tudo de bom para todos.
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