Autarca destaca “humanismo impressionante” de D. Marto
O cardeal D. António Marto, que acaba de deixar o governo da Diocese de Leiria-Fátima, foi homenageado por mais de 300 pessoas durante um jantar organizado por “um grupo de amigos” que decorreu na Ortigosa, no concelho de Leiria.
Na mensagem que dirigiu aos participantes, agradeceu aquilo que recebeu durante a sua presença na diocese: ”É muito mais do que aquilo que vos dei ou vos ensinei. Entre vós, pude sentir-me sempre em família, um bispo irmão entre irmãos e irmãs”.
“Se houve alguma coisa que eu tinha sempre presente, era fazer-me próximo, de todos, sem distinção, sem discriminação, sem olhar à condição social, sem olhar às diferentes crenças”, referiu o futuro Bispo Emérito de Leiria-Fátima, que cessou funções na diocese no dia 6 de março.
Por outro lado, afirmou que “nós hoje vivemos num mundo muito complexo, difícil — como estamos a ver —, fragmentado, polarizado, dividido, onde vai imperando a lei do salve-se quem puder, a cultura da indiferença”.
Por isso, “é necessária a cultura do encontro, peço-vos para lançardes pontes para todas as margens. Temos de ter mais cuidado uns com os outros, temos de cuidar da casa comum; isso é a cultura da fraternidade”, referiu durante o jantar, que decorreu na segunda-feira, dia 28, na Quinta do Paul.
Os “dois principais promotores da homenagem”, segundo a diocese, foram Mário Rodrigues, presidente União de Freguesias da Boa Vista e Santa Eufémia, e Raul Castro, presidente da Câmara da Batalha, que exerceu iguais funções em Leiria.
O autarca da Batalha elogiou “a simplicidade e a profunda cristandade que constituem algumas das principais marcas do seu [do bispo] legado, sempre com especial atenção para as crianças, indefesos e peregrinos de Fátima”.
“É alguém com um humanismo impressionante, uma humildade que o enobrece, sempre se manifestou disponível para ajudar a resolver algumas questões da sua Igreja”, adiantou.
“É com enorme gratidão que lhe agradecemos todo o trabalho que desenvolveu, todos os escritos que nos vai deixar e, acima de tudo, o coração humilde com que sempre se apresentou”, referiu Raul Castro.
No encontro foi feita a pré-apresentação de uma obra que, para além de retratar os momentos mais importantes do ministério de D. António Marto, reúne as cartas pastorais que foram publicadas ao longo dos 16 anos da sua presença em Leiria-Fátima. Este livro, que tem por título “Cardeal D. António Marto: Teólogo e Pastor”, foi apresentado e oferecido a D. António Marto no dia 6 de março, no final da missa de ação de graças e da sua despedida da diocese.
Durante o jantar foram entregues lembranças e prendas ao homenageado, entre as quais um computador portátil e um retrato do cardeal, pintado pela artista plástica Zinaida Loghin, natural da Moldávia e radicada em Portugal há mais de 18 anos.
O cardeal D. António Marto, que ficará a viver na Casa do Carmo, no Santuário de Fátima, foi substituído por D. José Ornelas, que iniciou funções no dia 13 de março.
Despedida
O bispo da diocese de Leiria-Fátima despediu-se dos diocesanos lembrando que os cristãos “têm muito a fazer” neste mundo como seja trabalhar pela “paz, pela reconciliação e pelo perdão entre povos”.
“Nem só de pão, de trabalho, economia e finanças vive o homem; também vive do encontro, do perdão e da paz. Não somos algoritmos” afirmou o cardeal, que celebrou pela última vez na Sé de Leiria como responsável por esta diocese.
Numa homilia que apelidou de “uma espécie de testamento que um bispo deixa ao seu povo” falou da necessidade de uma Igreja “próxima” ao estilo do Bom Samaritano; que tem a necessidade “de uma constante purificação porque se reconhece pecadora” e que está sempre pronta para sair em missão, com “humildade e sem arrogância”, que “cuida e cura” as feridas dos mundo.
“Mostremo-nos tal como somos, sem complexos, sem arrogância, sem medo e sem vergonha anunciando o Evangelho de Jesus” disse às centenas de fieis que participaram nesta celebração, que contou com a presença da esmagadora maioria dos presbíteros da diocese.
“Um bispo não está sozinho. Muito do que alcancei é fruto da colaboração de sacerdotes, de leigos, de pessoas que comigo trabalharam” disse no final, agradecendo a todos o carinho que lhe dispensaram sem deixar de mencionar “os peregrinos de Fátima pelo seu testemunho de fé”.
“Levarei a terna imagem de Nossa Senhora de Fátima, querida e terna mãe, bem como a dos queridos santos Pastorinhos, que tão presentes têm estado na minha vida”, disse emocionado.
Em declarações aos jornalistas, o prelado lembrou que “é uma alegria ser um bispo querido e amado pelo seu povo, como diz o Papa Francisco um bispo que cheira ao perfume das suas ovelhas”.
“Vivo este momento com muita serenidade: há um tempo para tudo, para começar e outro para terminar, para chegar para partir, para falar e para nos calarmos. Cumpri uma missão e sinto, numa leitura providencial e subjectiva, que Nossa Senhora inspirou o chamamento que me fizeram para preparar o centenário das Aparições. Sinto que cumpri uma bela missão”, disse ainda sublinhando que “esta missão bela teve a sua expressão máxima em maio de 2017 com a vinda do Papa, a canonização dos Pastorinhos e a presença de 9,5 milhões de peregrinos, de 150 países”.
“Julgo que isto diz muito dom que é hoje Fátima” referiu ao destacar a dimensão histórico teológica de Fátima que o centenário permitiu desenvolver bem como a sua dimensão profética.
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