Francisco André Santos

Diacrónicas

Até menos Sexo

 Sabem aquelas chatices que temos com familiares por diferenças de opinião? Tipo aquele mal-estar entre alguns tios só porque um é socialista e o outro é social-democrata, mas que, em família não desemboca em coligação? Pois na atualidade existem outras minorias presentes em assembleia que são acotoveladas com o “respeitinho aos mais velhos” e a que não entretêm o debate sobre o bonitinho é o beijinho aos Avós.

O ego eventualmente assume-se na opinião, no sentido em que o “eu” manifesta uma diferença. A consciência desenvolve-se com essas várias dimensões do conhecimento e autonomia. Passada a adolescência, esta deverá estar minimamente certificada. Ainda assim, esse balanço hormonal reflete diferenças entre gerações, mediadas por diferentes eras de informação e costumes. Além das diferenças entre aqueles da minha idade, confesso que coletivamente, somos reféns de uma maioria mais velha, própria até do desenvolvimento dos traços demográficos dos estados a que serve o capuz.

Citando esse acordar para o poder de toda uma nova geração Portuguesa: “Meus senhores, como todos sabem, há diversas modalidades de Estado. Os estados sociais, os corporativos e o estado a que chegámos. Ora, nesta noite solene, vamos acabar com o estado a que chegámos!” como anunciou Salgueiro Maia à nova maioria das tantas hierarquias institucionais que subsistem neste pequeno grande paradoxo, com respeitinho aos mais velhos – porque é que a mais educada geração do país encontra, no mercado de trabalho, das gestões menos bem preparadas da Europa? Um verdadeiro jogo da cadeira em que o chumbo universitário não pesa na atribuição da classe precária a quem cai entre os escalões da segurança social.

Num podcast do Público, Hugo Carvalho, Presidente do Conselho Nacional da Juventude, diagnostica a sintomática existência de líderes de associações juvenis com mais de 50 anos com “síndrome de Peter Pan”. Resta-me entreter a pequena contradição de que são os jovens que vivem na Terra do Nunca, até que me perguntam: “Porque não fazes mais um estágio, Francisco?”

Uma resposta bem dada seria “e porque não te reformas?”, mas a resposta é estrutural e está plasmada na idade dos nossos avós e na legislação laboral. Sendo da “geração sem renumeração”, quão parvo pensam que eu sou? Geração morangos sem açúcar e que ainda teve a sorte de poder suportar as rendas de Lisboa durante a licenciatura. Não me parece ter idade para ter vivido nesse país acima das condições, mas faço parte desse “país dos licenciados”.

Recebemos, se é que recebemos, um país “enquilometrado”, em dependência dos furos das petrolíferas, com “vista gold” para um miradouro estrangeiro em que a orbita satélite sobre esse produto interno bem bruto, é de pouco valor acrescentado. Que nefasto conservadorismo é esse que assola um país em que nada é conservado?! À curvatura do jota, falta-nos voz. Faltam tu e eu e um país para fecundar. Dizem as estatísticas: até menos sexo – continuaremos reféns do futuro?

Empreenda-se justiça entre gerações, para que não continuemos com uma mesada inferior ao que precisamos de ganhar. Retiremos da solidariedade dos nossos pais, um país, e da colaboração com os nossos colegas, um horizonte em rede. Qual é o estado a que queremos chegar?

 


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