Francisco Oliveira Simões (Historiador)
Crónicas do Passado
Artigo Procura-se!
“Artigo procura-se! Que se apresente legível e bem humorado, sem contrariedades e de leveza natural, mas sempre com uma temática que nos faça pensar”.
Este anúncio foi colocado nos jornais portugueses por mim, para meu grande enfado. A criatividade não desponta numa centelha de luz todos os meses, por isso, procurei algum artigo disposto a colaborar comigo. Iniciei as entrevistas há algum tempo e estes são os candidatos que se demonstraram interessados.
Artigo Terreno:
- Eu conto a história de um marginal que vive a leste da sociedade e que passa os dias a pensar na desgraça do mundo – disse-me um artigo emproado e de vestes amarrotadas, enquanto limpava os óculos de massa.
- Mas onde podemos encontrar humor ou sátira? – perguntei.
- Em nada, o mundo é negro e o leitor tem de compreender essa fatalidade. Todos somos astros da mesma constelação: a desgraça lapidar do univ…
- Vejo no seu currículo que já trabalhou com um reputado escritor alentejano.
- Na verdade, ele é que trabalhou comigo.
Artigo Celeste:
- Decidi vir aqui hoje, porque os planetas pareciam alinhados e as estrelas indicavam que seria este o meu destino – relatou um artigo aluado e de sorriso estampado no rosto.
- Qual a sua narrativa? – inquiri.
- Transporto comigo a confiança no amanhã e as energias positivas.
- Mas há um fio condutor?
- Há frases e pensamentos que vão despertar o leitor para um lugar melhor.


- Qual?
- A terra da felicidade.
Artigo Quotidiano:
- Estava a passar e reparei que precisam de um artigo?
- Sim, entre, por favor – convidei, puxando uma cadeira. – O que nos tem a contar?
- Trago a história de uma família portuguesa a braços com os seus problemas habituais e as multas de estacionamento.
- Não estou a compreender onde está o mote para criar um conto empolgante e que motive os leitores.
- Não há nada mais cativante que a identificação do público com os personagens da literatura.
- Mas o fascínio da literatura está no facto de poder extravasar as barreiras do real e da mundanidade – expliquei.
- Mas ainda não ouviu toda esta heroica aventura.
- Deixe-me adivinhar, a família vai atravessar a pandemia junta e enfrentar todos os dramas associados a essa desgraça mundial.
- Pois… Como sabe?
- Leio os jornais.
E assim, não encontrei um artigo que achasse digno de ocupar este espeço cronístico, que já escrevo há cinco anos. Muito obrigado a todos os leitores que me acompanham nesta jornada, tem sido um prazer poder escrever com tanta liberdade.
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