“Apesar da dureza nunca nos passou pela cabeça desistir ou voltar para trás”

Este é o registo da aventura de Marco e Lea, contada pelo próprio casal luso-alemão, no final da aventura de 2.870 quilómetros em bicicleta desde a Alemanha até à Batalha. A viagem começou a 14 de maio e terminou a 16 de junho

 

Após dois anos de planeamento saímos de casa em direção a Portugal e ao desconhecido.

A primeira semana foi mais tranquila do que esperávamos, primeiro devido à existência de ciclovias, depois devido ao baixo relevo do trajeto.

Passados dois dias da partida, tomámos o primeiro banho, de agua fria, num chuveiro exterior numa zona balnear na Holanda. Na Bélgica usámos sempre jardins privados, que pesquisamos através do site welcometomygarden.org [Uma rede sem fins lucrativos que oferece locais de acampamento gratuitos em jardins para viajantes], onde podemos tomar banho de água quente, bem como carregar os telemóveis e baterias, um luxo para quem anda nestas andanças.

A entrada em França foi num dia complicado. Chegámos ao limite. Tivemos de procurar onde ficar, pois na região onde passámos não existem parques de campismo e acabámos por acampar numa propriedade privada. Ainda assim, acabámos por ter sorte. Conhecemos o casal Marie e Philippe, que nos acolheu bem, como se fossemos família e no dia seguinte ofereceu-nos o pequeno almoço em casa.

Em França nem sempre foi fácil encontrar onde ficar e, nas duas semanas que passamos no país, fizemos campismo selvagem quatro vezes, uma delas num parque publico, a norte de Paris, um dos locais onde nos sentimos mais inseguros.

O melhor prémio em França foi termos chegado a Mimizan, na costa norte, e podermos mergulhar no Atlântico, após um dia muito cansativo devido ao vento de frente.

A partir desse ponto fomos em direção a Espanha, sempre a subir e descer. As altimetrias dos dias a seguir fizeram que chegássemos várias vezes ao limite, chorando juntos, para recuperar energia para seguir. Apesar da dureza, acrescida pelo peso da bicicleta, nunca nos passou pela cabeça desistir ou voltar para trás.

Entrámos em Espanha e logo no primeiro dia, nos últimos dois quilómetros, apanhámos uma subida com 19% de inclinação, que demorámos duas horas a fazer, entre lágrimas, risota e cantigas.

Ate Burgos foi sempre a subir. Nos três dias seguintes ciclámos o Caminho Francês de Santiago de Compostela, juntamente com Peg e o Ron, uma casal de Virginia (USA). Eles voaram para Itália com a sua bicicleta dupla, cruzaram França e de Saint Jean Pied de Port foram de bicicleta até Santiago de Compostela, descendo depois a costa até ao Porto, rumando de seguida para Lisboa. Passados poucos dias, regressaram a casa.

Quanto mais andámos para sul, menos segurança sentimos a circular. Apenas nas grandes cidades tivemos ciclovias, fora delas foi sempre a circular em nacionais. Em Salamanca mudámos o rumo. Estávamos desejosos de entrar em Portugal e, assim, decidimos ir em linha reta em direção a Vilar formoso.

A chegada a Portugal foi emotiva e a vontade de chegar, finalmente, ao destino apoderou-se de nós.

Infelizmente, Portugal está mal preparado para as bicicletas circularem nas estradas. Sentimo-nos mais inseguros nos últimos cinco dias em Portugal do que nas quatro semanas até cá chegar. No entanto, para compensar, sentimos o carinho e o bem receber típico dos portugueses. Desde a D. Rosa e do Nelson no Sabugal, ao pessoal do campismo em Castelo branco, o grande amigo Paulo e Tina e família, em Abrantes; o amigo de longa data Carlos Pisco e os pais e, por fina, os que foram ter connosco a Fátima, Pedro Pereira, Carlos Cunha, Tomas Cunha, e todos que nos esperavam na Batalha e nos proporcionaram uma receção, especialmente a Tania Jordão, nossa irmã do coração.

Ver a nossa família foi muito bom e emotivo.

No final foi uma experiência bastante positiva, quer a nível pessoal, quer para nós como casal. A parte positiva desta aventura foi perceber que o mundo é feito de pessoas boas e dispostas a ajudar. A parte menos boa, foi a viagem de bicicleta ser progressivamente mais difícil e insegura quando mais para sul nos deslocamos, devido a inexistência de vias cicláveis e à falta compreensão dos automobilistas.

No entanto, no final os pontos positivos superam largamente os negativos.

E agradecemos a todos que continuaram, de alguma forma, para a divulgação, apoio logístico e manutenção, para que esta aventura se realizasse. Estamos desejosos de reaver as nossas bicicletas, que já vão a caminho de casa na Alemanha, para que possamos começar a pensar na próxima aventura.

 

Registo/Caixa

 

Marco Elisiário de Jesus

Idade: 40 anos

Residência: Geeste, Alemanha

Naturalidade: Alcanadas, Batalha

Técnico de manutenção e reparação de redes de saneamento

 

Lea Elisiário de Jesus

Idade: 29 anos

Residência: Geeste

Naturalidade: Düsseldorf, Alemanha

Profissão: assistente de produção CNC

 


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