Francisco Oliveira Simões

Historiador

Águas desconhecidas

Quando os portugueses desembarcaram no Japão pela primeira vez, em 1543, ao pisarem a ilha de Tanegashima, nunca pensariam que o respeito e admiração entre os povos perdurariam até hoje.

Essa demonstração de fascínio mútuo explica- -se pelo contacto entre realidades diferentes, e pelas trocas comerciais, tecnológicas e civilizacionais que marcaram os séculos vindouros. As primeiras armas de fogo chegaram às mãos do Imperador do Sol através das naus portuguesas.

Hoje em dia, multiplicam- se as manifestações do mundo português no panorama artístico nipónico. Seja na literatura, com o premiado autor de O Silêncio, Shusaku Endo, no cinema, pela influência dos filmes de animação, onde aparecem monumentos nacionais ou personagens de origem lusa, ou nos jogos virtuais. Sobre este último permitam- me que o desenvolva mais, o leitor irá compreender a conveniência desta minha decisão.

Em 1991 o Japão lançou ao mundo um jogo, que ficaria eternizado com o nome anglófono de Uncharted Waters, que nos propunha realizar as façanhas navais portuguesas durante os séculos XV e XVI. Somos o navegador fictício Leon Franco, um nome mais hispânico.

A epopeia deste ambicioso explorador termina com o seu enobrecimento através do título de Duque e do casamento com a filha do Rei Dom Manuel I, D. Cristina, uma princesa completamente inexistente na família real portuguesa. Três anos volvidos, já no ano de 1994, sairia Uncharted Waters 2 – New Horizons, a continuação desta aventura, ambientada entre os séculos XVI e XVII.

Agora multiplicavam-se os heróis, os seus percursos e objetivos. O mais jovem é João Franco, o filho de Leon e D. Cristina, que almeja trazer a glória para Portugal, assim como descobrir a Atlântida. A escolha do seu nome foi irrefletida, já que é o mesmo do trágico Ministro do Rei Dom Carlos. Em representação de Espanha, é-nos apresentada Catalina Erantzo, uma pirata que tem cede de vingança pelos portugueses, pois foram os responsáveis pela morte do seu amado. Otto Baynes é o sábio e ardiloso cavaleiro e navegador do Reino de Inglaterra, que é incumbido de uma missão secreta a mando de Henrique VII, além disso é um dos maiores rivais dos espanhóis.

O cartógrafo holandês Ernst Von Bohr, sonha fazer um mapa completo do mundo. O explorador italiano Pietro Conti busca os artefactos mais exóticos e raros, numa tentativa de saldar as dividas deixadas pela sua família. Por fim conhecemos o comerciante otomano Ali Vezas, que deseja fazer rotas mercantis lucrativas.

Este contributo do Japão para compreendermos a história dos impérios marítimos europeus, demonstra o seu interesse em descobrir mais sobre Portugal e o seu povo, os Nanbamjin (homens do sul).


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