Núcleo de Combatentes da Batalha

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“25 de Abril”: quem culpar pelo muito que ainda falta cumprir?

Se, logo após a “revolução dos cravos”, ocorrida há 44 anos, foi possível assistir à euforia de uma grande parte da população portuguesa por, acima de tudo, ter reconquistado a sua liberdade; também foi constatável que uma significativa franja da sociedade, receosa de poder vir a perder os privilégios que a ditadura lhe trouxera, não apoiou essa revolução e, após um curto período de espera, até nem tardou a combatê-la, fosse de forma aberta ou encapotada.

Outras conquistas então obtidas foram o direito ao voto e à formação ou legalização de partidos políticos, independentemente das ideologias que defendessem, desde a extrema-esquerda à extrema-direita.

Em teoria, o conjunto destes factos demonstrava que, finalmente, a democracia também funcionava no nosso País, sendo que alguns excessos, que desde o início se cometeram (e continuaram a cometer, infelizmente, até aos nossos dias), faziam parte da nossa aprendizagem, por estarmos a viver um “admirável mundo novo”.

Se, à época, já fossemos um povo alfabetizado e mesmo que só medianamente culto, mas com princípios morais atávicos, provavelmente a circunstância de não dispormos, salvo poucas exceções, de um quadro de políticos com experiência para começarem a dirigir os destinos do país com competência, justiça e retidão, talvez tal lacuna não tivesse provocado estragos de monta, na causa maior que era o progresso do país e o bem-estar geral da população portuguesa, em especial fazendo reduzir as assimetrias socioeconómicas até um patamar aceitável.

Mas nós somos descendentes dos Lusitanos (entre outra amalgama de povos) e o que, há 2.000 anos, um pretor romano terá dito desses nossos ancestrais – “um povo que não se governa nem se deixa governar” – continuou a ter plena aplicação até aos dias de hoje, talvez com uma nuance nada despicienda: é que, ao longo da nossa história e até agora, houve muita gente que se foi governando – e de que maneira! – sem minimamente cuidar de se preocupar com as vítimas que a sua gula e ambição causavam à sua volta.

Ora, o “25 de Abril”, não só não veio pôr cobro aos desmandos desta gente sem escrúpulos (com muitos “políticos” incluídos) como, segundo as estatísticas, as assimetrias sociais se têm acentuado.

E agora podíamos analisar a segunda parte da frase acima transcrita – “… nem se deixam governar” – e acrescentar-lhe “nem querem ser bem governados” porque, apesar de terem ao seu dispor a “ferramenta” provavelmente mais poderosa que os povos que vivem em democracia têm para poderem ser bem governados – o voto – são cada vez menos aqueles que, em Portugal, o usam ou o sabem usar racionalmente.

O principal argumento dos abstencionistas é dizerem que não vale a pena votar, designadamente porque os políticos, sejam de que partido for, são todos incompetentes e genericamente corruptos.

Ora, costuma ser exatamente para se alterar este estado de coisas que votar se torna essencial. Mas não: é muito mais cómodo criticar e atirar as culpas para terceiros, dizer mal de tudo e de todos e ir debitando umas aleivosias nas redes sociais, do que nos deslocarmos a uma assembleia de voto para exercermos o nosso dever cívico, nem que seja apenas a uma média inferior a uma vez por ano.

Quanto aos que ainda vão votando, uma boa parte continua a fazê-lo em partidos e pessoas pelos quais já quase nutre tanta admiração e fanatismo como se do seu clube de futebol se tratasse e é exatamente desta simbiose de abstencionistas e de “fanáticos” que os políticos de menores escrúpulos gostam.

Podemos afirmar que o projeto de “Abril” ainda tem muito para cumprir. Mas podemos igualmente sustentar que aqueles que mais podiam beneficiar com os resultados desse projeto têm feito muito pouco para a sua viabilização, embora tenham a “faca e o queijo na mão” para o alcance desse objetivo.


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