José Travaços Santos
Baú da Memória
2ª Série dos Cadernos Leirienses
Acaba de sair o nº 1 da segunda série dos Cadernos Leirienses, publicação que tem agora a coordená-la um jovem intelectual, Dr. André Camponês, promissor investigador da história e da etnografia regionais. Lembro que a primeira série foi coordenada pelo Eng.º Carlos Vieira Fernandes, figura marcante das Letras alto-estremenhas.
Este número tem uma colaboração vasta e diversificada, embora sempre subordinada aos estudos etnográficos. Participam, além de André Camponês, dezassete investigadores de toda a região, sendo-me grato registar que entre eles se encontra um promissor etnomusicólogo batalhense, Joaquim Moreira Ruivo, membro dos Corpos Gerentes do Rancho Folclórico Rosas do Lena e orientador etnográfico do agrupamento.
A investigação etnográfica revela-se de extrema importância no nosso tempo, em que se vão apagando as memórias de tudo o que nos identifica e que constitui um tesouro cultural em vias de rápido desaparecimento.
Há não só beleza mas, sobretudo, originalidade neste tesouro hoje entregue à guarda dos agrupamentos folclóricos, nem sempre com condições para o salvaguardar, pelo que obras como os “Cadernos Leirienses”, nesta nova vertente, se tornam não só úteis como indispensáveis. Têm aqui, os folcloristas, lições preciosas para orientar o seu trabalho e, também, para emendar aquilo que porventura não esteja correcto.
Hoje mais do que nunca é preciso importarmo-nos com o destino deste imenso e significativo património, que o não é menos que o património construído e histórico. Património que engloba música, dança, poesia, instrumentos musicais, trajo, jogos populares, alguns deles únicos como o jogo do pau, verdadeira arte marcial portuguesa, ou invulgares como o jogo do mioto, brinquedos, a literatura popular e certas manifestações religiosas como os círios, as romarias, os cânticos da Quaresma e do Natal, os desfiles das “ofertas”, etc., etc.. Um património duma imensidade e duma riqueza espantosa que estamos a dissipar se não tomarmos a sério e urgentemente a sua defesa e a sua utilização.
Muitos destes valores deviam ser dados a conhecer nas Escolas dos vários graus de Ensino e os Poderes instalados em Lisboa, sobretudo o seu Ministério da Cultura, deviam dedicar um pouco (ou um muito) da sua atenção a este importantíssimo ramo da Cultura Portuguesa, habitualmente menosprezado pelo Terreiro do Paço.
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